28ª Aula - A reconquista cristã e a formação do Reino de Portugal
Sumário: Ocupação muçulmana e reconquista cristã. Do Condado Portucalense à formação do Reino de Portugal. Formas de relacionamento entre os dois mundos - cristão e muçulmano.
Como vimos na aula anterior, a
invasão da
Península Ibérica, pelas
tropas muçulmanas comandadas por
Tarique, deu-se em
711. O primeiro confronto, vitorioso para os muçulmanos, aconteceu na
Batalha de Guadalete, nesse mesmo ano. A progressão dos muçulmanos por terras peninsulares foi muito rápida, aproveitando divisões entre os visigodos. A esmagadora maioria dos habitantes não ofereceu grande resistência e em cerca de três anos a península ficou praticamente nas mãos dos ocupantes com
exceção da região muito montanhosa das
Astúrias, no norte, região onde se refugiou um grupo de cristãos visigodos que não se resignaram e não aceitaram a ocupação muçulmana e que, comandados por
Pelágio, um nobre visigodo que foi o primeiro rei do primeiro reino cristão, o Reino das Astúrias, iniciaram, a partir daí, a resistência e a luta contra os invasores em 718. Em
722 deu-se a
Batalha de Covadonga, ganha pelos exércitos cristãos e assim teve início um período da história peninsular conhecido por
Reconquista Cristã, que foi muito
lenta e feita de
avanços e recuos. Outros
núcleos de resistência formaram-se nos
Pirenéus e na
Catalunha.
Entretanto a reconquista prossegue e os reis cristãos recebem, frequentemente, a ajuda de nobres estrangeiros que vinham ajudar na luta contra o inimigo. Ao tempo de
D. Afonso VI,
rei de Leão e Castela, vieram dois nobres originários da Borgonha, atual França, que se destacaram na luta contra os muçulmanos e que o rei recompensou pelo auxílio prestado dando a um,
D. Raimundo, a filha legítima,
D. Urraca, em casamento e o
governo da Galiza e a
D. Henrique a mão de sua filha bastarda,
D. Teresa, e o governo do
Condado Portucalense com a possibilidade de reconquistar e anexar ao condado mais terras que reconquistasse para sul, política seguida pelo Conde D. Henrique que procurou aumentar o seu poder e a sua autonomia mas sem se libertar por completo dos laços de vassalagem devidos ao rei de Leão e Castela. Após a morte de D. Afonso VI ficou regente D. Urraca até o seu filho, o futuro rei D. Afonso VII, ter idade para assegurar a governação.
À morte de D. Henrique, quem assegurou a governação foi D. Teresa uma vez que D. Afonso Henriques era ainda muito pequeno. D. Teresa, tia de D. Afonso VII de Leão e Castela, e influenciada pela nobreza galega, nomeadamente uma família muito poderosa, os Peres de Trava, enceta uma polítca que não visa minimamente a independência do condado. Mas parte da nobreza portuguesa e o próprio D. Afonso Henriques aspiram à libertação e independência do reino e estas
duas fações, com interesses antagónicos, confrontam-se na
Batalha de S. Mamede, em 1128, saindo vitoriosas as tropas leais a D. Afonso Henriques, que, a partir desta data, passou a governar o Condado Portucalense. Segue-se um período de relacionamento difícil e em 1137 é assinada a
Paz de Tui em que D. Afonso Henriques se compromete a manter "fidelidade e segurança" ao seu primo, D. Afonso VII. Em 1138 deu-se a
Batalha de Ourique em que as tropas comandadas por D. Afonso Henriques saem vitoriosas. Foi uma vitoria importantíssima para o aumento do poder e do prestígio de D. Afonso Henriques que, no ano seguinte,
1140, se vai intitular
Rex Portugallensis", ou seja,
Rei de Portugal,
independência só reconhecida por D. Afonso VII, em 1143, pelo Tratado de Zamora, e só em
1179, pelo papa Alexandre III, através da
Bula Manifestis Probatum.
Entretanto a reconquista prosseguia para sul e, em 1147, D. Afonso Henriques, O Conquistador,
recupera duas importantíssimas cidades - Santarém e Lisboa. E continua para sul, ajudado também pelas ordens religiosas militares dos Templários, Hospitalários e de Santiago, muito embora as reconquistas feitas no Alentejo tenham sido posteriormente recuperadas pelos muçulmanos. Nos últimos anos do seu reinado, incentivou a efetiva ocupação de terras, promoveu o municipalismo e concedeu forais para atrair populações às terras despovoadas.
Após a morte de D. Afonso Henriques, em 1185, a reconquista prosseguiu com D. Sancho I, D. Afonso II, D. Sancho II e D. Afonso III e foi com este rei que a
reconquista acabou em território português, com a conquista de
Silves e Faro, em
1249.
Em
1297 é assinado o
Tratado de Alcanises, tratado que
regula a fronteira entre Portugal e Castela e Portugal ganha, basicamente, os contornos fronteiriços que ainda hoje mantém.
A reconquista cristã só termina em
1492 do lado castelhano, com a reconquista do
Reino de Granada.
A convivência entre muçulmanos e cristãos nem sempre foi violenta e pautou-se por longos períodos de
relacionamento pacífico entre as duas comunidades, uma
rural e senhorial e outra
urbana e comercial. Aos cristãos, que permaneceram em terras ocupadas pelos muçulmanos, chamamos
moçárabes, enquanto os
cristãos que se convertem ao islamismo são os
muladis. Os
mouros são os
muçulmanos que permaneceram em terras recém ocupadas pelos cristãos e que continuaram a professar o islamismo.
Os cristãos beneficiaram enormemente do avanço e
sofisticação da
civilização árabe. A eles lhes devemos a numeração que usamos na atualidade, a chamada numeração árabe, muitas
palavras de origem árabe, a introdução de
novas técnicas de aproveitamento de água e de rega,
novas plantas, nomeadamente os citrinos, o desenvolvimento da
química,
medicina,
geografia,
ciência náutica,
astronomia, tão importantes para a época dos descobrimentos, que estudaremos no próximo ano letivo.
A apresentação em PowerPoint explorada em contexto de sala de aula, intitulada
V - A reconquista cristã e a formação do Reino de Portugal pode ser consultada
aqui.
Sobre esta matéria vejam também o interessantíssimo mapa dinâmico, da Porto Editora,
aqui.
E os três vídeos que selecionei para vocês e que vos poderão ajudar a consolidar a matéria.
Não facilitem. Invistam na História.
A agora partilho convosco um vídeo mais ligeiro sobre os nossos primórdios como Nação. Aproveitem e bom trabalho.